junho 22, 2015

Armas desfeitas

Ele chegou e seu cheiro desequilibrou a conversa que se desenrolava. A concentração se perdeu com o que invadiu as narinas e tudo o que havia se tornou coadjuvante daquela inebriante performance de existir. A velocidade diminuiu. Cores e sons se abafaram.

Perdi-me no seu olhar penetrante voltado para um qualquer lugar que não meus olhos, enquanto delirava com o cheiro de cigarro e álcool que ele deixava ao passar. Falava em versos e eu, muda, ouvia.
Apática. Estática. Estanque.

Falhava na tentativa de permanecer imune àquele clichê de artista. Falhei, francamente, na fútil tentativa de ser forte.

As ondas das notas esbravejadas da sua garganta, alimentadas de cachaça e cuspidas junto a baforadas de fumaça, decidiam o ritmo dos corpos - todos - de lá. Mas das suas palavras, febris, apoderei-me, como se fossem compostas para mim. Algo em toda aquela cena precisava ser só meu.

A contorção de corpo revelava quem se entrega ao gozo ou à agonia intensamente.
Contração nas cordas. Força no diafragma. Cabo encarnado entre os dedos. Cada cuidadoso detalhe da performance: hipnose.

Letárgica, embriaguei-me.

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